Reminiscências I
Observações pessoais quanto à Maçonaria – 1ª Parte.
Buscando situar o antes e o depois da minha Iniciação, quando ainda profano, nem sabia disso, só sabia que profanador violava certas condições da vida, desrespeitava as coisas sagradas e violava os mortos, numa dimensão bem mais grave que o simples “não iniciado”, digamos, pagão ou, não autorizado a certas práticas religiosas.
Algumas Peças de Arquitetura para as quais se pede ao Neófito deem suas impressões, geralmente discorrem sobre a curiosidade que tinham sobre a Maçonaria, talvez pelo mistério que a envolve, talvez pelos fantásticos segredos de que seria portadora. Sabedora disso, a Maçonaria logo alerta “se a curiosidade aqui te conduz, RETIRA-TE”.
Sobre os segredos muitos sinceramente esperavam coisas bem diferentes do que descobriram. Estimo que para melhor, porque não é fácil saber de um segredo segredo mesmo, e não saber o que fazer com ele. Mas os segredos foram sendo desvendados, embora muitos ainda estão por ser descobertos.
Ao para do alerta, a Maçonaria não recrimina a curiosidade, irmã gêmea da pesquisa, do interesse, da busca pela descoberta, desde que essa não seja interesseira ou destruidora, mas contribua para o engrandecimento do Maçom e se reverta em bem para a Maçonaria e para a Humanidade, pois ela não quer nada para ela: já é feita, completa, bem pensada, verdadeira Arte Real. O que exige é que cada Membro seja um Obreiro da Paz, um Cavaleiro Templário, que dispense seu cavalo, mas corra a galope em busca de seu aperfeiçoamento (domine seu Templo, dedique-o ao Trabalho, pratique constantemente as Virtudes).
Da minha parte não tive os meios de comunicação a meu favor, seja porque iniciei-me muito jovem, 21 anos, seja porque não dispunha de recursos para me instruir. Muito, porém, tinha sob meu nariz, como os TRÊS escoteiros Huguinho, Zezinho e Luizinho, criados pelo Irmão Walt Disney (1901-1965) nos passos do também Irmão Badem Powell (1847-1951), que também divulgou histórias como os TRÊS Porquinhos, Aprendiz de Feiticeiro, a meia-noite de Cinderela, O Pequeno Príncipe, do nosso Irmão Saint Exupery (1900-1944), as histórias do Maçom Julio Verne (1828-1905), de Monteiro Lobato (1982-1948), O Homem que queria ser Rei, do Irmão Rudyard Kipling (1865-1936), etc., mas cujos simbolismos e alegorias ocultos só depois de certa vivência maçônica pude descobrir. Junto veio a admiração por todos eles. Uma releitura da nossa literatura de infância nos faria muito bem agora.
O que mais tenho ouvido é sobre os parentes, pais ou avôs, ou amigos que foram Maçons, não sem uma falsa admiração, senão um desejo daqueles resultou no seu ingresso na Maçonaria. E se tornaram, inobstante, nossos Irmãos, e Irmãos queridos, a Maçonaria tudo tolera, não são esses nossos pecadinhos que nos condenam. Já quanto aos amigos, raro tenhamos conhecido algum que soubéssemos – na nossa condição de profano – fosse Maçom. Maçom não se propagandeia.
Não podia falar dos objetivos externos da Maçonaria como os serviços de filantropia, de benemerência, porque, acredito eu, é parte que toca a cada coração ser um filantropo. Ela, suas Lojas teriam a capacidade de reunir a esses para uma ação mais abrangente. E isto só depois de iniciado pude ver e sentir. Cada creche, cada hospital, cada casa de caridade, cada família assistida (pecamos, e muito, contra as viúvas que prometemos proteger; também não temos dado a devida atenção aos Lowtons, aos que se desgarram da Maçonaria, antes nossos queridos Irmãos, agora esquecidos), cada asilo, cada albergue, cada instituto (cegos, etc.), cada leprosário, cada igreja, convento ou seminário, sim, a Igreja, aí estamos nós assistindo, atuando e contribuindo.
O muito que eu passei a perceber, já próximo de minha Iniciação, pelos que se achegaram a mim, nem sabia se tratar de Sindicância, apresentaram-se com conhecimentos bem acima do que imaginava, não filósofos, mas não deixaram de mencionar filosofia maçônica, aí algo em mim realmente se acendeu e me disse que eu estava no caminho certo. Não vim, pois, em busca de glória efêmera, mas de conhecimento, de luz, de sabedoria. Tive tudo isso, 2 por cento, é verdade, mas estou progredindo para o 3%. O restante do que não conseguir prosseguirei estudando no Oriente Eterno.
Muitos se esquecem de lançar na prancha algo sobre seu Padrinho. Na realidade se lembram, depois, ao usar da Palavra. Eu só descobri que tinha um Padrinho nas ocasiões em que ele manifestou isso em Loja. Algo a se pensar. Devemos valorizá-lo tanto quanto devem nos instruir, ser o primeiro, antes do Vigilante, antes do Venerável. Isso facilitaria muito a caminhada no grau inicial e repercutiria no investimento que a Loja fez em mim.
Observo, hoje, que a inclusão é imediata por parte dos membros da Loja, mas o Obreiro Neófito leva tempo para assimilar essa familiaridade que para nós existe desde sempre, ou, pelo menos desde o primeiro momento. Sou assim até com os que se iniciam em Loja que visito pela primeira vez, no dia da Iniciação. Essa visão “família” deve ser assimilada por ambos os lados, mediante aceitação integral de pertença à Sublime Fraternidade.
É comum dizerem que conheceram os segredos que lhes foram passados, mas o fato é que estranhamos muito tudo, esse nunca foi o nosso mundo, mas estamos de ouvidos atentos, olhos abertos, relaxados ainda quanto à postura, querendo gravar aquela palavra sussurrada, aquela pose, aqueles sinais, os passos, qual pé adiante, se bato ou não o calcanhar (ah! passou o tempo e continuamos com a dúvida, culpa daquele Mestre de Cerimônias ou Venerável que atropelou os procedimentos e ensinou o que nem ele mesmo aprendeu direito, e isso fica marcado, infelizmente, difícil de remover: como aprendemos – certo ou errado – isso será tido como certo pro resto da vida...).
Por fim, bato no avental com todo o contentamento que me enche o coração de poder ter estado mais uma reunião com meus Irmãos, embora o mundo ainda não saiba quem somos nós, nem compreendido o que seja a Maçonaria. Exatamente como eu, quando profano.
Eymard OSANAM de Oliveira, Iniciado em 23/9/1977 na Loja “Cavaleiros da Paz” nº 25, Oriente de Londrina, sendo meu Padrinho o saudoso Irmão “Magid Jorge”.